Ainda se dança de forma espontânea?
Como dançam os corpos de hoje as danças tradicionais?
Qual o processo de desconstrução da dança tradicional na criação contemporânea?
Com foco nas Valsas Mandadas convidamos todos a uma conversa sobre a sua prática tradicional, o processo de investigação, a criação artística e a interpretação.
Uma conversa moderada por Sophie Coquelin (etnomusicóloga) e a participação de Clara Andermatt (coreografa), Joana Lopes (bailarina) e Manuel Araújo (mandador de Valsas Mandadas)
Este é o segundo encontro de conversas inseridas no ciclo – “Conversas com Dança” – de intervenções e debates que contará com quatro edições ao longo dos próximos quatro anos.
19 de Outubro de 2019
Circulo Eborense, Évora
Oradores
Clara Andermatt
Nasceu em Lisboa em 1963. Considerada uma das pioneiras do movimento da nova dança portuguesa, a carreira de Clara Andermatt revelou, ao longo dos anos, uma identidade artística particularmente singular no panorama artístico nacional e internacional, e um percurso que, indubitavelmente, deixou a sua marca na história da dança contemporânea portuguesa. Estudou dança com a sua mãe, Luna Andermatt, e graduou-se pelo London Studio Centre e pela Royal Academy of Dance, em Londres. Foi bolseira do Jacob’s Pillow (Massachussets, 1988), do American Dance Festival (Durham, 1994) e do Bates Dance Festival (Maine, 2002). Integrou entre 1984-88 a Companhia de Dança de Lisboa (dirigida por Rui Horta), e entre 1989-91 a Companhia Metros, em Barcelona (companhia de autor de Ramón Oller). Com a sua Companhia, formada em 1991, cria e produz numerosas obras, distinguidas com prémios e regularmente apresentadas em Portugal e no estrangeiro. Em 1994 inicia uma forte relação com Cabo Verde, com a criação de vários projetos com intérpretes locais, ações de formação e colaborações com artistas de diferentes áreas, que culminaram numa série de residências, projetos e espetáculos. O seu percurso é marcado pela viagem, pelo encontro com outras culturas e outras linguagens artísticas, especialmente nas zonas de fronteira entre formatos e estilos, entre o corpo treinado e não treinado e o desejo de aproximação do outro, procurando sentir e perceber a singularidade de cada indivíduo.
Joana Lopes
Bailarina e professora de dança, iniciou a sua formação artística na Academia de música Vilar
de Paraíso; em 2011 concluiu a Licenciatura em Dança pela ESD e em 2015 realizou o FAICC na Companhia Instável. Como intérprete trabalhou com Paulo Ribeiro, Memórias de Pedra – Tempo Caído; Luiz Antunes, Todos Alguém Qualquer Um Ninguém; Ana Renata Polónia, Yeborath ; Ruben Marks, Habeas Corpus e Clara Andermatt, Fica no Singelo ; co-criou Corpos Museu com André Arújo e Clara Alvim e Agente com Oirana Moraes. Tem participado em diversos workshops de dança contemporânea, dança tradicional, butoh e clown, dos quais destaca o Passing Through Only Intensive na Sicilia com David Zambrano, Gaga Movement com Yaniv Avraham, Butoh com Yuko Kominami. Colabora com a Escola do Cardo Amarelo, onde leciona aulas de dança tradicional portuguesa.
Manuel Araújo
Habilitações académicas: Licenciatura em Educação Física e Desportos.
Iniciou a sua actividade profissional no ano lectivo de 1972/73 no Liceu Nacional Setúbal.
Nesse tempo, a Educação Física não se regia por currículos vindos do Ministério da Educação, mas por propostas apresentadas pelos delegados de grupo, aos então reitores dos respectivos liceus. Depois do 25 de Abril foi possível alguma autonomia, até que mais tarde, a Educação física passou a dispor também de currículos próprios, nos quais estava previsto o ensino da Dança.
Mas foi após a introdução do Desporto Escolar, que foi possível aprofundar um pouco mais o ensino da Dança nas escola, através dos então Grupos-Equipa, sendo os mesmos mais baseados nos desportos colectivos devido à possibilidade de organizar quadros competitivos.
Mais tarde começaram a surgir alguns Grupos-Equipa de Folclore e foi aí que começou a sua experiência nesta área. Naturalmente, as danças que se ministravam nos Grupos atrás referidos, representavam as várias regiões do País.
Não conseguiu experimentar a introdução das Valsas Mandadas, pois apenas após se aposentar, conseguiu tempo disponível para as aprender.
Foi nessa ocasião de aprendizagem das Valsas Mandadas, que aconteceu o seu contacto com a Associação Pédexumbo, facto este que possibilitou a oportunidade de, apesar de já estar aposentado, partilhar a sua experiência, através das oficinas de Valsas Mandadas, nas edições do Andanças, a partir do ano de 2007.
Moderadora
Sophie Coquellin
Licenciada em etnomusicologia e Mestre em “Ethnologie des arts vivants”, Sophie Coquelin investiga os processos de revitalização da dança de raiz tradicional em Portugal. Graças a uma bolsa de doutoramento obtida pela Reitoria da Universidade de Lisboa, iniciou em 2017 um doutoramento em Motricidade Humana, especialidade de Dança, na Faculdade de Motricidade Humana. Pretende aprofundar o entrosamento entre a antropologia e a arte, abordando a questão da multimodalidade na “dança mandada”.
Na interface entre o mundo académico e a sociedade civil, a sua experiência profissional decorreu na Associação PédeXumbo enquanto produtora cultural (2006-2013) e no centro de investigação INET-md polo FMH-ULisboa, com uma bolsa de investigação (2014-2017). Colaborou no projeto Terpsicore – base de dados de dança e artes performativas em Portugal, coordenada pelo Prof. Daniel Tércio.