Os Parapente700 vão estar na 5ª edição do Festival Desdobra-te, num momento de celebração! Este concerto celebra os 10 anos do duo e marca também o pré-lançamento do seu primeiro disco, apoiado pela Bolsa “Agora o Folk” da Pédexumbo.
Eva Parmenter e Denys Stetsenko conheceram-se há cerca de 20 anos no Festival Andanças e 10 anos mais tarde criaram o projeto Parapente700 onde confluem com subtileza e humor, melodias tradicionais e composições originais, onde a música e a dança são abraçadas pelo encontro entre um violino e uma concertina.
Entre melodias tradicionais e composições originais, Parapente700 levam-nos a viajar pela Europa entre danças francesas, portuguesas, suecas, espanholas e de outros países. Ainda com inspiração na música da Europa de Leste, podemos escutar melodias que vão do mediterrâneo e mais além, até aos mares do Norte e Atlântico. O duo renova, re-interpreta e cria música para escutar com os pés e dançar com os ouvidos.
Agora celebram 10 anos de trajetória, 10 anos de cumplicidade e de uma longa conversa entre um violino e uma concertina, uma conversa que já tocaram em Portugal, Espanha, Itália, França, Bélgica, Holanda, Suiça e Alemanha. São 10 anos celebrados da melhor maneira, com o lançamento do seu tão aguardado disco!
Depois de muitas viagens e experiências, foi hora de ir para o estúdio para a gravar este albúm que estamos prestes a ouvir e ter em casa, com o apoio da Bolsa «Agora o Folk», uma bolsa criada pela Associação PédeXumbo que apoia anualmente músicos e projetos nacionais no panorama atual do folk para dançar e que estejam a criar e/ou a fazer arranjos deestes repertórios.
Estivemos à conversa com a Eva e o Denys para lhes perguntar como estão a viver este momento!
PédeXumbo (PX): Olá Eva e Denys!! “Finalmente”, como diz quem vos conhece, lançam o vosso primeiro disco, depois de tantos anos a tocar juntos, a pisar o palco, a construir a vossa linguagem no mundo folk. Antes de começarmos a falar do disco, o que é que este momento significa para vocês?
Parapente700: É verdade, já lá vão 10 anos de muitas aventuras, experimentações e de viagens pela Europa fora. Aproveitamos a deixa para dizer que nos conhecemos no festival Andanças há cerca de 20 anos, como brotaram muitos outros encontros musicais em jam sessions que se arrastavam pela noite dentro. Um de nós, a Eva, frequenta o festival desde a sua génese e o Denys foi a primeira vez há 20 anos. O duo surgiu 10 anos depois, desafiado pelo Matias da associação Tradballs e o primeiro concerto foi no dia da criança! É um marco tão importante quanto emocionante. Até ao lançamento do CD, cada concerto foi uma oportunidade única para nos escutarem e bailarem ao vivo. Congelar um álbum de 10 anos de momentos singulares e irrepetíveis é algo impossível mas também desafiante.
Como dizíamos, é muito difícil condensar num disco tantas vivências tão ecléticas. Já tocamos em tantos contextos tão diferentes, onde cada um suscita uma abordagem diferente, coisa que é possível fazer graças a sermos apenas dois e também graças à nossa cumplicidade musical. Também, escusado dizer, que neste momento nos encontramos com outra experiência, maturidade, que não tínhamos há 10 anos atrás. A nossa maneira de fazer e de ver a música também vai mudando…Os gostos e escolhas ficam mais vincados, então este momento é também o aqui e o agora!
PX.: E agora sim, a criação. O que é que este disco nos traz? O que já tocavam e temas novos? O afirmar do vosso repertório ou algo completamente novo?
Parapente700: Este disco traz o sabor que fomos apurando ao longo dos anos, composições antigas, outras mais recentes e alguns arranjos acabados de sair do forno. Condensa assim a nossa identidade sonora. No que diz respeito à dança, com a excepção de um dos temas, todos eles foram pensados para dançar. Contém algumas danças portuguesas, francesas, suecas… sendo que as que são “tradicionais” levaram uma bela reviravolta, à nossa maneira (risos).
PX.: Sabemos que tiveram vários convidados para dar ainda mais corpo às vossas ideias. Quem foram eles? Certamente escolheram tudo ao pormenor para este primeiro disco!
Parapente700: Infelizmente não foi possível convidar todas as pessoas que gostaríamos que fizessem parte do disco. Tentamos arranjar as melhores soluções dentro das condicionantes que vão existindo e também aprendemos a seguir os sincronismos e a acolher as oportunidades que não foram necessariamente planeadas. Assim sendo, neste disco acolhemos amigos e excelentes músicos com quem já colaboramos e que no momento da gravação, em Agosto, estavam por Lisboa. Diogo Duque é um dos convidados, trompetista de uma elegância sonora e uma escuta e musicalidade incontestáveis. Martin Sued é um amigo mais recente, vindo da Argentina, que toca bandoneon e com quem temos o prazer de partilhar momentos de beleza e deleite do seu imaginário musical. É criador do projeto “Martin Sued e a Orquestra Assintomática”, que conta com a participação do Denys. Por sua vez, Marco Santos é um percussionista eclético e fogoso, compositor, e mentor da companhia “Pulsar – companhia do corpo” da qual fazemos parte.
Fomos audazes na escolha dos instrumentos dos convidados, pois é improvável um trio de Trompete, Violino e Concertina ou mesmo Bandoneon, Concertina e Violino, mas não tínhamos dúvida que a sensibilidade e musicalidade de cada um deles criaria a simbiose necessária para enaltecer cada uma das músicas em que participaram. Não querendo deixar de mencionar o Tejo Bar, bar de culto e de passagem de muitos músicos, onde partilhamos momentos musicais com cada um dos convidados no passado e que serviu de berço de tantos projetos musicais.
PX.: Gravar é sempre um exercício de fixar no tempo as ideias do artista, naquele momento da vida, da vida artística, etc. Como é que foi gravar e fixar os temas que já sabem de cor, para lhes dar esta “vida eterna” num disco que em breve todos vão poder ouvir em casa?
Parapente700: Que responsabilidade (risos)! É apenas uma possível versão ou caminho que também pode ser desconstruído à posteriori em concerto. Fixar um caminho possível para cada tema gravado é um processo lindo de fecho para dar aso a um novo início e à urgência de compormos e de trabalharmos novos temas. Neste disco, tivemos a oportunidade de trabalhar alguns temas de uma forma algo diferente.
Ao longo destes 10 anos, muita gente manifestou o desejo de levar a nossa música para casa e isso também é uma responsabilidade, tanto quanto um momento de felicidade, sentir que “finalmente” vamos poder corresponder. Ao levarem o nosso disco, poderão escutar com mais pormenor e preferencialmente com boas condições de escuta. Por outro lado, até à saída do album, cada concerto era uma oportunidade única para nos escutarem ao vivo, havia uma singularidade nisso que achamos interessante.
PX.: Há quem lhe chame rodopio, movimento, espiral em direcção ao céu. E vocês, que nome dão a este trabalho/momento importante para os Parapente700?
Parapente700: O nosso primeiro CD não terá um nome, a não ser que lhe chamemos “10 anos”!
PX.: No palco, nos bailes, em jam session há sempre a possibilidade de alargar os temas, para além do seu tempo (duração e mesmo época). Como é que se “aperta” o folk no estúdio e num disco? Que processo é esse?
Parapente700: Essa necessidade sempre existiu, pois também fazemos concertos só para ouvir, “sem dança”. O processo de equilíbrio no arranjo, adaptado a quem escuta e quem dança, é bastante orgânico.
PX.: Mas no estúdio não há baile, gravar o disco é assim levar o baile a todas as casas. Como é que é tocar para quem dança?
Parapente700: Em contexto de baile, o interessante para nós é conseguirmos pôr em prática as nossas ideias musicais de forma a irem ao encontro não só dos “ouvidos” mas também dos “pés”. Só por si, esse exercício já é uma bela dança, por vezes também de concessões. Por exemplo, alguns bailarinos, muitas vezes, não apreciam muito as introduções de um tema, porque julgam ter que esperar para começar a dançar uma determinada coreografia, mas convém lembrar que a música tem que respirar e que é uma troca viva. Estamos tanto ao serviço da dança em contexto de baile como da música, que é um valor mais alto a apreciar. Gostamos tanto de tocar para os corpos bailantes, e vibrar com isso, como para os ouvintes atentos. Num baile existe uma retro-alimentação e inspiração ao vivo, ao ver dançar, entramos em sinergia com os corpos bailantes. Trazemos conosco essa inspiração e levamo-la para estúdio também.
Frisando que, desde há pelo menos 20 anos, que estamos em contacto com o mundo dos festivais de danças tradicionais e, ao longo de tantos anos de dança, há também uma certa naturalidade no processo de criação de temas para dançar. Também temos um especial gostinho em desafiar os bailarinos e os seus “ouvidos” para que continuem a evoluir. Desafiamos, aliciamos e motivamos o nosso público a mergulhar nas subtilezas dos nossos arranjos, por vezes desafiantes para quem não esteja habituado à ausência de um constante ritmo marcado.
PX.: Para vocês, porque é que é tão importante gravar o Folk (o balfolk)?
Parapente700: Os registos discográficos, para além de serem um marco importante na vida de um grupo, acabam por ser também uma fonte de inspiração para os músicos do futuro.
Em relação à dança, pode ser importante em contexto de formação, por exemplo, mas gostaríamos de frisar que o CD ou a música gravada não deveria nunca ser um substituto da música ao vivo, não é comparável sequer. Inclusive, pode até ser um inibidor de momentos de partilha entre músicos e dançarinos que possam estar num evento de “balfolk”. A partir do silêncio surge a música, é necessário saber criar as condições para que surja uma jam-session, para o encontro e intercâmbio.
PX.: Consideram assim importante a existência de bolsas como a Bolsa “Agora o Folk”?
Parapente700: Estamos profundamente gratos pelo apoio e voto de confiança que nos deram, assim como a outros artistas no passado, é fundamental que haja este tipo de organizações, que criem as condições para que os artistas possam desenvolver o seu trabalho. A bolsa “Agora o Folk” da Pédexumbo funcionou entre outros como o empurrão que necessitávamos para pormos mãos à obra e avançarmos “finalmente” com a gravação do álbum.